quarta-feira, 20 de junho de 2012

Quando o assunto é Candomblé


Olá, esse texto não girará em meu entorno, mas creio que é oportuno me apresentar. Me chamo Beatriz, tenho dezoito anos, sou branca de descendência européia, sou homossexual e adepta de uma das várias religiões de matriz africana: o candomblé. Por mais que dizer isso de forma tão direta pareça um pouco sem ligação ou significado, gostaria de ressaltar que na verdade tudo isso faz muito mais sentido do que parece. Imagino que alguns de vocês possam estar se questionando à respeito do motivo pelo qual eu disse que sou branca e que tenho descendência européia. Em primeiro lugar, acredito que o motivo principal para dizer isso foi porque eu quis começar esse texto tendo como pressuposto que não existem lugares de negros ou lugares de brancos e que assim como muitos negros se encontraram dentro de religiões provenientes da Europa, como o protestantismo e o catolicismo, eu me encontrei dentro das crenças dos povos africanos e com muito orgulho bato no peito para anunciar minha religião e professar minha fé nos orixás.

Algo que sempre me deixa muito curiosa e também triste, é que sempre que vemos um negro se convertendo ao protestantismo ou ao catolicismo, encaramos isso com muita naturalidade, mas quando vemos uma braquinha, ruiva, de olhos verdes que se diz praticante de alguma das religiões de matriz afro assim como eu, isso é encarado sempre com muito espanto e de forma ruim. Minha mãe encara assim, meu pai encara assim e muitas pessoas em volta de mim também encaram assim. Por que o que vem do europeu é bom e o que vem do negro é tribal, atrasado e ruim? Como medir o grau de veracidade e importância de religiões que tem como fundamentos coisas extremamente diferentes? Por que o que é sagrado pra mim precisa ser profano pra você? E, principalmente, por que minha escolha de religião não pode ser aceita sendo eu branca, negra, marrom ou amarela?

Enquanto olharmos pra escolha do outro com preconceito, nunca conseguiremos conviver em paz. A religião que seja, desde que tenha como objetivo principal fazer o bem, deve ser respeitada como tal para que o mundo progrida cada dia mais e trilhe um caminho de harmonia, paz e sabedoria.

Amém pra quem é de amem, mas axé pra quem é de axé também. E viva o Candomblé!


Pra quem quiser conhecer melhor o Candomblé, recomendo a minissérie "Mãe de Santo", exibida na Rede Manchete, nos anos 90. Deixo aqui o primeiro capítulo, os demais capítulos também estão disponíveis no youtube.


Um comentário:

  1. Belíssimo texto!!!
    Não professo a mesma fé. Fui criada por pais evangélicos; mas a minha incansável curiosidade, e uma busca por conhecimento constante me fizeram ter uma crença num ser que não é o mesmo que eu fui por muito tempo, "acostumada" a acreditar.
    Posso não ser da mesma linha de religião ou fé, mas faço parte deste ciclo de vida: VIVER E SER UM SER MELHOR A CADA DIA!!

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