domingo, 3 de junho de 2012

Se ser cachorra é ser livre, late que eu tô passando!

Aviso: O texto não é indicado para pessoas moralistas, continuem assistindo sua programação na TV.


“Só me dava porrada e partia pra farra.
Eu ficava sozinha, esperando você.
Eu gritava e chorava que nem uma maluca.
Valeu muito obrigado, mas agora virei puta” [ Gaiola das Popozudas]



Neste texto pretendo abordar um assunto que é “polêmico” e “imoral” para algumas pessoas. Nas próximas linhas, você vai ler minha opinião em relação ao Funk da Valesca Popozuda e sua contribuição na luta feminista nos lugares de classes mais pobres.

Sou militante feminista na Baixada Fluminense (RJ), nasci e cresci nessa região.É um lugar marcado por desigualdades sociais, grupos de extermínio, alto índice de violência contra mulheres, LGBTs e negrxs.

Por experiências que vivi e vivo, nesses lugares tão marginalizados, tenho muito que agradecer a Valesca Popozuda por difundir em suas músicas o que tanto lutamos no feminismo “meu corpo, minhas regras”.

Sim, eu sei que muitas companheiras de luta, vão dizer que a Valesca sustenta a ideia machista de que a mulher é um objeto sexual.
Então, tenha paciência que vou explicar o motivo de eu não concordar com a opinião de muitas feministas.

Acredito que o Funk que é cantado por ela contribuiu/contribui para uma postura menos submissa de muitas mulheres. E essas mulheres que estou me referindo são as minhas vizinhas, minha irmã, minha mãe, minhas amigas...e eu.

Foto tirada na Marcha das Vadias
Ou vocês acham que foi a Simone de Beauvoir e Pagu, que me ensinaram que eu devo ser livre e que ninguém manda no meu corpo? Onde moro não existe uma biblioteca pública e muito menos livraria.
A Valesca chegou primeiro em meus ouvidos, depois vieram os livros e a luta diária.

Não sei se ela é feminista, isso não é minha preocupação (por mais que eu considere muitas funkeiras como “feministas sem cartilha”).
O que me preocupa é como dialogar com uma população marginalizada, e quais os “instrumentos” que posso utilizar para mudar a realidade dessas pessoas, através de um trabalho coletivo. E a cada dia percebo que há um abismo entre o feminismo e as mulheres pobres.

A Diva do funk das popozudas é necessária, mas não fará a revolução. Não é uma super heroína, mas nos ajuda (mesmo sem saber) em uma luta tão difícil contra algumas formas de opressão (isso eu consigo perceber)!

Cabe a nós, nos utilizarmos dos discursos, das músicas, e de todos os espaços para mudar nossa realidade, ou podemos ficar reclamando pelas redes sociais...
Que sua voz continue ativa pelas periferias "daquele jeito"!


Você sabia:
Que na Baixada Fluminense morre uma travesti por dia? (De acordo com levantamento informal feito pelo Centro de Referência LGBT)
Uma triste realidade, né? Agora imagine, a diva desse lugar (sim, é a Valesca) chegando em um baile funk e dizendo no microfone:
Tenho muitos amigos gays, travestis, bi e sempre vejo eles sofrendo discriminação. É a hora de dar um BASTA” (frase que ela escreveu em seu twitter).
Isso é um ato muito corajoso (!!!), que abre caminhos para discutirmos esse assunto com a população, e lutarmos juntxs para conseguir mudanças.


"O funk não é problema, para alguns jovens é a solução".
Solta o batidão aí, DJ!







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7 comentários:

  1. Olá, cheguei aqui através do Arte, idéias e ideais e adorei seu texto. Nós escrevemos sobre a Valesca também no nosso blog "Ativismo de Sofá". Adorei a tirinha, pois estou cansada de ouvir de feministas que a Valesca denigre a imagem da mulher (oi???) e acho este discurso um verdadeiro contra-senso. Enfim, obrigada pelo texto e principalmente pela tirinha, amei, amei, amei!

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  2. Obrigada à você, Flávia. Todas nós estamos muito felizes com o seu comentário e em saber que não somos apenas nós que pensamos dessa forma dentro do movimento feminista. Beijos pra você!

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  3. Parabéns pelo Texto e pelo lado que você vê e reconhece... Vou divulgar e deixar como dica para os "mentes pequenas" e que acham que Valesca é apenas Bunda e Peito! Ela está ajudando nessa luta da igualdade e eu apoio que as pessoas possam ver e conhecer o outro lado da realidade de muitos!

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  4. Demais! me abriu um horizonte muito doido, mesmo :D

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  5. Oi meu nome é Elânia, moro em SP, Grajaú, periferia da zona sul e ultimamente ando procurando saber mais sobre Valesca Popozuda, pois a acho uma mulher que assim como a Leila Diniz, revoluciona sem saber que é revolucionária. Ai achei seu blog e chapei no texto, muito bom mesmo e falou exatamente o que acho sobre ela (Valesca). Queria poder trocar mais ideia contigo sobre o funk, feminismo e a nossa luta diária. Meu email é lania.lima@gmail.com e no facebook sou Elânia Francisca.

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  6. Olá, Lidi, li seu texto no Juntos.org e simplesmente, ADOREI, fiquei refletindo após a leitura dele durante um bom tempo, obrigada por escrevê-lo :D

    Beigos,
    Maura - Blog da /mauraparvatis.

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  7. Muito bom!!! Obrigada! É o que eu sempre tentei explicar para os meus colegas da universidade, e você fez de uma forma magnifica.

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